Nomes para todos os gostos
Com os anos aprendi a ouvir e calar.
Não fazer perguntas é a chave para não ter que levar com conversas que não interessam.
Claro que nem sempre fui assim.
Quando era mais verdinha neste trabalho, tive alguns contratempos e respostas menos apropriadas.
Já lá vão alguns anos, apareceu-me aqui uma senhora já velhota para uma consulta de Cardiologia.
Essa utente era da serra dos lados do Caramulo.
Ora bem, sendo a primeira vez que a utente vinha a este consultório eu tonta, pedi-lhe para me dizer o nome.
Teria evitado embaraços se tivesse pedido a identificação. Mas pronto.
Então a senhora coitadita, muito simples disse-me o nome.
Maria Enjeitada.
Aposto que nunca tinham ouvido um nome tão estranho.
Eu também não. E como achei que a senhora não estava a dizer-me o nome saio-me com esta
"Desculpe, mas Maria Enjeitada não é nome de gente".
Nessa altura eu tinha uma colega de trabalho, acho que se ela tivesse um buraco, metia-se lá dentro de tanta vergonha mediante a minha resposta.
Adiante, a senhora mostrou-me o Bilhente de Identidade e explicou-me a origem do nome dela.
Então é assim; antigamente lá na terrinha dela quando nasciam crianças que não eram desejadas por variadissimos motivos, eram deixados na roda.
A roda fiquei a saber ficava as portas dos conventos. As crianças seriam criadas pelas freiras.
Portanto, a senhora teve a infelicidade de ser deixada na roda e como se isso não bastasse, ainda lhe chamaram Maria Enjeitada.
Mas nomes estranhos tenho imensos.
Por exemplo, uma criança que tadita... chamaram-lhe Maria Alho.
Raulinda, Ruizete, e tantos outros que as vezes me fazem duvidar da sanidade mental das pessoas.